China exporta suas técnicas de vigilância para o mundo
A China organiza nesta semana o Fórum de Cooperação Global em Segurança Pública, onde expõe o poder de sua indústria de vigilância, que exporta câmeras de segurança, tecnologias de DNA de alta precisão e softwares de reconhecimento facial para todo o mundo.
Representantes das forças policiais e de segurança de mais de cem países participam do evento na cidade de Lianyungang.
Dezenas de empresas chinesas apresentam seus produtos, muitas delas ligadas, segundo ONGs, à repressão na região de Xinjiang.
A China é uma das sociedades mais vigiadas do planeta, com milhões de câmeras nas ruas e sistemas de reconhecimento facial em todo o território.
A rede de vigilância cumpre a dupla função de combater o crime e prevenir protestos contra o Partido Comunista Chinês (PCC).
O ministro da Segurança Pública, Wang Xiaohong, disse na abertura do fórum que no ano passado a polícia chinesa treinou 2.700 policiais estrangeiros e outros 3.000 serão capacitados nos próximos 12 meses.
A China quer exportar suas técnicas de policiamento e vigilância para "normalizar e legitimar o seu estilo de vigilância e (...) o sistema político autoritário", indica Bethany Allen, especialista do Instituto Australiano de Política Estratégica.
Entre os expositores, a Caltta Technologies ajuda Moçambique a criar uma "plataforma de resposta a incidentes" que utiliza inteligência de dados para a "localização rápida de um alvo".
Já a gigante das telecomunicações Huawei afirma ter implementado sua 'solução de segurança pública' em mais de 100 países e regiões, incluindo Quênia e Arábia Saudita.
A Huawei é sancionada desde 2019 pelos Estados Unidos, que acusa a empresa de espionagem para as autoridades chinesas.
- Vigilância em Xinjiang -
A SDIC Intelligence Xiamen Information também foi sancionada por Washington por desenvolver um aplicativo que teria rastreado arquivos de áudio e imagens, dados de localização e mensagens em celulares.
Segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, os habitantes da região de Xinjiang – a maioria uigures, minoria étnica principalmente muçulmana – foram obrigados a baixar um software que "permite às autoridades monitorar qualquer atividade ilegal".
A China é acusada de prender mais de um milhão de uigures e outros membros de minorias muçulmanas em Xinjiang, embora as autoridades neguem.
Na feira, a empresa demonstra um avançado sistema de reconhecimento facial que permite refinar a nitidez para facilitar a identificação de pessoas.
O software "mostra até os espaços entre os dentes", diz um de seus representantes.
O Instituto de Medicina Legal, vinculado ao Ministério da Segurança Pública, apresenta métodos para realização de testes de DNA.
Em 2020, este instituto também foi sancionado por Washington, que bloqueou seu acesso a tecnologias americanas por "violações e abusos dos direitos humanos".
A sanção foi levantada como parte do esforços de cooperação entre os dois países para combater o fentanil.
Delegações estrangeiras que visitavam a feira pareciam entusiasmadas.
"Podemos aprender com a China", disse à AFP o major da polícia sul-africano Sydney Gabela, que buscava tecnologias para seu país.
Já o coronel Galo Erazo, da polícia equatoriana, visitou o fórum para "fazer contatos e iniciar um treinamento".
L.Marino--IM