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Alemanha vota sob pressão da extrema direita e de Trump
Os alemães comparecem às urnas neste domingo (23) para eleições parlamentares nas quais a oposição conservadora é a grande favorita, após uma campanha abalada pelo retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos e pela ascensão da extrema direita.
As eleições renovarão os representantes legislativos da maior potência econômica europeia. O novo governo deverá enfrentar os desafios que abalam o modelo de prosperidade do país e preocupam a população.
O próximo governo enfrentará uma recessão econômica, as ameaças de uma guerra comercial com Washington, assim como as dúvidas sobre o "guarda-chuva" americano com o qual Berlim contava para garantir sua segurança.
"É o destino da Alemanha que está em jogo", declarou no sábado o líder do partido conservador CDU/CSU, Friedrich Merz.
Mais de 59 milhões de alemães estão registrados para votar até as 18H00 (14H00 de Brasília), horário em que devem ser divulgadas as primeiras estimativas das pesquisas de boca de urna.
Merz, um ex-advogado empresarial de 69 anos, é o favorito para suceder o atual chefe de Governo, o social-democrata Olaf Scholz.
As últimas pesquisas mostraram que a CDU/CSU tem quase 30% das intenções de voto, o que significa que Merz precisará de uma aliança com pelo menos outro partido para formar o governo.
- Clima tenso -
Friedrich Merz descartou a possibilidade de governar em aliança com o partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD), que pode ter o dobro do apoio obtido nas eleições legislativas anteriores e alcançar quase 20% dos votos.
O partido anti-imigração e pró-Rússia conseguiu impor seus temas durante a campanha, que aconteceu em um clima tenso, marcado por vários ataques fatais executados nas últimas semanas por estrangeiros no país.
Na sexta-feira, um sírio de 19 anos, que queria "matar judeus" segundo as autoridades, feriu um turista espanhol no Memorial do Holocausto em Berlim.
A campanha também foi influenciada pelas ordens executivas e declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assim como pela interferência de seu entorno a favor da extrema direita.
O vice-presidente americano, JD Vance, e o bilionário Elon Musk, assessor de Trump, apoiaram a AfD e aumentaram a visibilidade do partido de extrema direita.
"AfD!", voltou a postar Musk no sábado à noite, em uma mensagem acompanhada de bandeiras da Alemanha.
Christian, um engenheiro de 49 anos, participou no sábado de um comício da AfD, afirmou que a líder do partido, Alice Weidel, é "uma mulher de coragem que fala sobre temas ignorados pelos outros partidos".
As eleições antecipadas acontecem na véspera do terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia, que provocou um choque na Alemanha.
O conflito acabou com o fornecimento de gás russo e o país abrigou mais de um milhão de ucranianos. A perspectiva de uma paz estabelecida com um acordo negociado entre Estados Unidos e a Rússia, sem a participação da Ucrânia e dos europeus, é outra preocupação.
- Incerteza -
Segundo as pesquisas, as diferentes forças políticas alemãs precisarão formar uma coalizão para governar, o que pode levar semanas ou meses para ser concretizado.
Para isso, o bloco conservador CDU/CSU, que descartou uma aliança com a AfD apesar de uma aproximação parlamentar durante a campanha na questão migratória, deverá procurar o Partido Social-Democrata (SPD).
O partido do chanceler Scholz está em terceiro lugar nas pesquisas, com 15% das intenções de votos, o que representaria seu pior resultado do pós-guerra e, provavelmente, representaria o fim da carreira política do atual chefe de Governo.
Mas antes, Scholz terá que organizar a transição.
"Espero que a formação do governo esteja concluída até a Páscoa", ou seja, 20 de abril, disse Friedrich Merz, um objetivo difícil de alcançar caso os dois partidos sejam obrigados a buscar um terceiro aliado para o Executivo.
V.Barbieri--IM