Il Messaggiere - ‘Meu filho vive mal, eu vivo mal’: a dura rotina dos familiares de manifestantes presos na Venezuela

‘Meu filho vive mal, eu vivo mal’: a dura rotina dos familiares de manifestantes presos na Venezuela
‘Meu filho vive mal, eu vivo mal’: a dura rotina dos familiares de manifestantes presos na Venezuela / foto: Federico PARRA - AFP

‘Meu filho vive mal, eu vivo mal’: a dura rotina dos familiares de manifestantes presos na Venezuela

Comida podre, pouca água e frio: mães de detidos após a controversa reeleição do presidente Nicolás Maduro em julho denunciam que seus familiares recebem um tratamento "desumano" em Tocuyito, uma prisão de segurança máxima localizada no norte da Venezuela.

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E fora do presídio, as condições também não são fáceis.

Apenas mulheres têm direito a visitas. Em um protesto na quarta-feira (16) para exigir a libertação dos presos, algumas usavam camisetas brancas estampadas com frases e os rostos de seus filhos.

"São inocentes. Não são ladrões nem assassinos. A única coisa que pedimos é liberdade", diz Mireya González, de 53 anos, cujo filho, Sandro Rodríguez, de 25, está preso há mais de dois meses após ser detido em Barquisimeto, cidade a 200 quilômetros de distância.

As manifestações que eclodiram após o anúncio da vitória de Maduro deixaram 27 mortos, entre eles dois militares, e mais de 2.400 detidos, chamados de "terroristas" pelo presidente esquerdista.

Muitos foram transferidos para duas prisões de máxima segurança, Tocorón e Tocuyito, onde não se misturam com o restante da população carcerária.

Os presos vivem em condições "desumanas" e os familiares não podem lhes dar nada, afirma uma mãe. "Todas somos mães aqui, (viemos) de todo o país".

Em Tocuyito, dos 441 detidos em manifestações, "221 têm alguma patologia. Não recebem atendimento, e zombam: 'cuidaremos de você quando estiver morrendo'", garante González, porta-voz de um grupo de cerca de 50 mães que aguardam do lado de fora da prisão.

"Não há água. Dão pouca comida e é de má qualidade. No início havia vermes... Esta manhã, o café da manhã foi frango podre que não puderam comer", diz outra mãe, sob anonimato.

Um familiar assegura que eles só receberam um uniforme desde a detenção. "Não há lençóis e eles são obrigados a rasgar os colchões e se envolver neles para não sentir frio", descreve. Houve numerosas "tentativas de suicídio", ressalta.

Yaisleth Petit, cujo marido, Carlos Caripa, também está preso, implora ao presidente Maduro: "Que liberte esses jovens inocentes. ¡Em nome de Deus!".

"Quando vi meu marido, não o reconheci; era um homem que pesava 98 quilos, agora pesa 65. Ele sofria muito de fome, estava muito mal", afirma.

- "Já não temos medo" -

Do outro lado das grades, a vida também é dura. Quem vive longe opta por ficar para evitar o caro transporte.

Yajaira Méndez, de 45 anos, mãe de Yholber Coronado, detido em Tocuyito, vive no estado vizinho de Lara e compartilha um quarto com outras 15 pessoas.

"Cada um paga 2 dólares por dia", explica sobre o grupo, que às vezes recebe ajuda de associações ou famílias.

O quarto está situado em uma área com casas deterioradas perto da prisão.

No chão há quatro colchões e sobre um deles, uns sapatinhos de bebê com a imagem do "Homem Aranha". "Dormimos três ou quatro em um colchão", explica González.

Na pequena cozinha, os pratos são recipientes de plástico de margarina vazios. "Reutilizamos tudo o que podemos", sublinha González.

Marisela Peña, de 28 anos, tia de Wilbert Aragurez, de 18, se revezam com outros familiares para dormir sob a marquise de uma loja de alimentos em frente à prisão.

"Queremos estar muito perto da prisão, porque meu sobrinho está muito doente: tem convulsões regularmente e queremos poder levar medicamentos para ele. E é mais barato que o hotel", diz.

Sobre o chão de cimento, há cobertores e pequenas bolsas de viagem.

"Já não temos medo desde que nossos filhos foram presos", garante uma das mães.

S.Rovigatti--IM