Israel bombardeia Rafah apesar de ordem da CIJ; negociações sobre cessar-fogo em Paris
Israel bombardeou a Faixa de Gaza neste sábado (25), apesar da Corte Internacional de Justiça (CIJ) ter ordenado a suspensão das operações nesta área do território palestino governado pelo Hamas, enquanto os esforços diplomáticos para obter um cessar-fogo prosseguem em Paris.
Testemunhas e correspondentes da AFP relataram bombardeios das tropas israelenses contra Rafah, uma cidade do sul da Faixa na fronteira com o Egito.
Também foram registrados ataques aéreos e disparos de artilharia contra Deir al Balah e Nuseirat, no centro, Jabaliya e a Cidade de Gaza, no norte, e Khan Yunis no sul.
Em resposta a um pedido da África do Sul, o principal tribunal da ONU ordenou na sexta-feira a Israel que interrompa a operação em Rafah e qualquer ação que provoque a "destruição física total ou parcial" do povo palestino em Gaza.
A CIJ também exigiu a abertura da passagem de fronteira entre Egito e Gaza em Rafah, porta de entrada da ajuda humanitária que Israel fechou no início do mês ao iniciar as operações na cidade.
O tribunal, cujas decisões são vinculantes, embora a corte não tenha recursos para implementá-las, também exigiu que o movimento islamista liberte imediatamente todos os reféns sequestrados no ataque de 7 de outubro contra Israel.
Mas nenhuma parte parece ter acatado as demandas do tribunal.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, alertou Israel que as medidas cautelares da CIJ são "obrigatórias", assim como "a libertação dos reféns" sob poder do Hamas e "o acesso humanitário", porque "o sofrimento dos moradores de Gaza e a violência devem acabar".
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em coordenação com Noruega e Irlanda, anunciou que na próxima terça-feira o seu governo reconhecerá a Palestina como Estado. Israel criticou duramente a iniciativa e convocou os seus embaixadores nos três países para consultas.
- Reuniões em Paris -
O conflito começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os integrantes do Hamas também sequestraram 252 pessoas. Segundo Israel, 121 permanecem cativas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.
Horas antes da decisão da CIJ, o Exército israelense anunciou que recuperou em Gaza os corpos de três reféns assassinados, incluindo o israelense-brasileiro Michel Nisenbaum.
Em resposta ao ataque de outubro, Israel iniciou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza, na qual mais de 35.800 palestinos, a maioria civis, morreram até o momento, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.
As negociações indiretas com mediação do Catar, Egito e Estados Unidos estagnaram no início de maio, pouco depois do início das operações terrestres de Israel em Rafah.
Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, autorizou esta semana a retomada das negociações para obter o retorno dos reféns.
Parte das conversações, o diretor da CIA, William Burns, se reunirá em Paris com representantes israelenses.
Na mesma cidade, o presidente francês, Emmanuel Macron, teve uma reunião na sexta-feira com os ministros das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Catar, Egito e Jordânia para abordar a situação em Gaza.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, também conversou com o ministro do gabinete de guerra israelense, Benny Gantz, sobre os novos esforços para obter um cessar-fogo e a reabertura da passagem de Rafah o mais rápido possível.
- "Acabem com este pesadelo" -
Apesar da oposição da comunidade internacional, incluindo seu principal aliado, Estados Unidos, as tropas israelenses entraram na cidade de Rafah no início de maio.
Os soldados tomaram o lado palestino da fronteira com o Egito, o que reduziu ainda mais o ritmo de entrada de ajuda humanitária para os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
O Exército americano instalou um cais temporário na costa de Gaza que, segundo um porta-voz da ONU, permitiu o desembarque de 97 caminhões de ajuda em uma.
Mas a situação humanitária no território ainda é alarmante, com risco de fome, hospitais fora de operação e quase 800.000 pessoas que foram obrigadas a fugir de Rafah, segundo a ONU.
O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários e Coordenador de Ajuda de Emergência das Nações Unidas, Martin Griffiths, afirmou que "os trabalhadores humanitários e os funcionários da ONU devem ter a capacidade de cumprir o seu trabalho com segurança".
"No momento em que a população de Gaza enfrenta a fome (...) é mais crítico do que nunca ouvir os apelos dos últimos sete meses: libertem os reféns, estabeleçam um cessar-fogo, acabem com este pesadelo", concluiu.
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A.Bruno--IM