Rival de Erdogan diante do difícil desafio de ganhar o segundo turno na Turquia
O candidato opositor laico da Turquia, Kemal Kiliçdaroglu, conseguiu impedir a reeleição do presidente conservador Recep Tayyp Erdogan no primeiro turno de domingo, mas suas possibilidades de ganhar o segundo turno em 28 de maio são remotas.
As pesquisas previam bons resultados para Kiliçdaroglu, à frente de uma coalizão de seis partidos, mas o candidato de 74 anos obteve menos de 45% dos votos.
Erdogan, no entanto, ficou a poucos décimos da maioria absoluta, o que teria lhe permitido ganhar as eleições no primeiro turno de domingo.
"O segundo turno será mais fácil para nós", afirmou, nesta terça (16), Ibrahim Kalin, o porta-voz de Erdogan.
"Há uma diferença de cinco pontos, cerca de 2,5 milhões de votos. Parece que não há possibilidade de que isso [a diferença] diminua", acrescentou.
Para desbancar Erdogan, que está há duas décadas no poder, Kiliçdaroglu está de olho nos eleitores jovens.
Mais de cinco milhões eleitores estreantes - que cresceram sem conhecer outro líder que não Erdogan - tinham direito ao voto. Considera-se que são os mais propensos a querer uma mudança.
Kiliçdaroglu, um laico de 74 anos, tratou de dar um novo impulso à sua campanha, nesta terça, com uma mensagem destinada diretamente para esse setor da população.
"Não podem pagar nada. Nem sequer podem pensar em uma xícara de café. Roubaram-lhes a alegria de viver, quando a juventude deveria ser sinônimo de despreocupação", escreveu no Twitter.
- O apoio dos curdos: uma faca de dois gumes? -
Os curdos, uma minoria étnica que representa aproximadamente 10% dos eleitores, poderiam impulsionar também a vitória de Kiliçdaroglu.
O líder opositor, membro da comunidade alevita, historicamente uma das mais reprimidas da Turquia, recebeu inclusive o apoio do partido pró-curdo HDP no final de abril.
A taxa de participação nas províncias de maioria curda, porém, chegou a apenas 80%, muito menor do que a média nacional, de 89%.
Um maior apoio dessa minoria poderia, no entanto, se tornar uma faca de dois gumes.
Uma das estratégias de Erdogan foi vincular a oposição ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo armado que luta uma guerra contra o Estado há décadas. O método parece ter alcançado os setores mais nacionalistas e conservadores.
"No geral, a aliança eleitoral de Kiliçdaroglu com o pró-curdo HDP o prejudicou", apontou Soner Cagaptay, analista do Washington Institute.
"Alguns eleitores do HDP em províncias de maioria curda ficaram em casa no dia das eleições, enquanto que alguns votantes nacionalistas decidiram não votar em Kiliçdaroglu, reprovando sua aliança com o HDP", analisou.
Resta saber quem o terceiro colocado apoiará. O nacionalista laico Sinan Ogan obteve 5,2% no primeiro turno.
Seu apoio poderia se tornar crucial, ainda que também tenha centrado sua campanha contra o "terrorismo", uma palavra que muitos políticos usam para condenar os curdos.
- "Erdogan terá mais facilidade" -
"O nacionalismo anticurdo dessa vertente representada por Ogan (...) torna muito difícil um acordo com Kiliçdaroglu", declarou à AFP Kursad Ertugrul, da Univerdade Técnica do Oriente Médio de Ancara.
Inclusive se Kiliçdaroglu ganhar o apoio de Ogan, isso provavelmente afastaria o voto curdo, disse Berk Esen, professor de ciências políticas da Universidade Sabanci de Istambul.
Outro desafio que o opositor enfrenta é a unidade dos seis partidos que formam sua aliança, após a decepção de domingo.
"Erdogan terá mais facilidade que Kiliçdaroglu para atrair os eleitores, especialmente os de Ogan", analisou Emre Peke, da consultora Eurasia Group.
"Também é provável que os partidários do presidente apareçam em maior número para votar no segundo turno que os partidários de Kiliçdaroglu, já que a oposição (...) perde impulso", continuou.
A campanha de Erdogan seguirá se centrando com toda probabilidade nos temas de segurança, uma questão que preocupa a classe trabalhadora turca "conservadora-nacionalista", apesar dos impactos da crise econômica, disse Ertugrul à AFP.
L.Bernardi--IM