Petro reestrutura governo com aliados diante de obstáculos às reformas
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, renovou, nesta quarta-feira (26), sete ministérios e se cercou de velhos aliados políticos em meio à pior crise do governo, que tem dificuldades para implementar suas reformas de esquerda.
No poder desde 7 de agosto de 2022, o mandatário tem tido dificuldades em implementar as profundas mudanças que prometeu em sua campanha eleitoral, em relação aos sistemas trabalhista, de saúde, previdenciário, judiciário, entre outros. E os partidos tradicionais que apoiaram o começo de seu governo foram se distanciando ao longo do tempo no Congresso.
Em meio à tempestade política, Petro pediu a renúncia de todos seus chefes de ministérios nesta quarta. Entre os nomes que deixam as pastas se destaca o de José Antonio Ocampo, um acadêmico liberal que estava à frente do Ministério da Fazenda e criava consensos.
Por sua experiência e reconhecimento como economista e professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Ocampo gerava confiança nos mercados e partidos políticos aliados do primeiro governo de esquerda da história do país.
"Conseguimos gerar confiança na gestão econômica do país que espero que se consolide e continue na (gestão do) meu sucessor", disse Ocampo em entrevista coletiva de despedida.
Na noite de terça, o mandatário pediu um "repensar do governo", após pôr fim a alianças com partidos tradicionais, chaves para o sucesso de suas reformas no Congresso.
Nas últimas horas, deixou ver sua desconfiança em relação a certos ministros que não faziam parte do seu círculo de confiança, alguns deles próximos a setores que deram apoio a suas reformas.
- Velhos aliados -
Petro aceitou também a renúncia da ministra da Saúde, Carolina Corcho, no centro das disputas entre o governo e parte do Congresso que se opõe a uma reforma constitucional para reduzir a participação privada no sistema de saúde.
Na Fazenda, o mandatário designou o ex-professor universitário Ricardo Bonilla, ex-secretário de Fazenda durante a prefeitura de Petro em Bogotá (2012-2015).
Seguindo nessa mesma linha, nomeou o ex-congressista Juan Fernando Velasco, um de seus homens mais próximos, no Ministério do Interior e, na pasta de Tecnologia e das Comunicações, Mauricio Lizcano, que estava como assessor da Presidência.
O presidente colombiano já havia formado um primeiro gabinete afastado das forças de esquerda que o levaram ao cargo e optou por políticos de centro e direita.
- "Crise inédita" -
Os gestos de Petro "geram uma crise inédita" no país, assegurou o presidente do Congresso, Roy Barreras, na RCN Radio. "Não lembro" de um presidente "decretar a morte de sua coalizão de governo" tão prematuramente, acrescentou o parlamentar do partido governista.
Como prefeito de Bogotá, Petro enfrentou constantes mudanças em sua equipe de trabalho, seja por demissões ou por decisão própria. Na ocasião, os opositores e alguns de seus ex-funcionários apontaram a dificuldade do atual presidente de trabalhar em equipe.
Em 15 de fevereiro, o mandatário pediu a seus apoiadores que fossem às ruas para pressionar pela aprovação de suas reformas.
Em seguida, alertou de uma sacada da residência presidencial, Casa de Nariño, que continuaria convocando manifestações até que a "mudança" fosse uma realidade.
Dias depois, em 28 de fevereiro, demitiu três de seus ministros, entre eles o centrista Alejandro Gaviria, da pasta da Educação, cujas críticas à reforma da saúde proposta pelo governo vazaram na imprensa.
Também foram afastadas a campeã olímpica María Isabel Urrutia, do Ministério do Esporte, acusada em um escândalo de corrupção, e Patricia Ariza, da Cultura, sem justificativa conhecida para a decisão.
- Reveses -
"As pessoas estão com muita incerteza frente ao futuro, para onde vamos, e as mudanças de ministros fazem aprofundar essa incerteza", garantiu Juan Manuel Santos, ex-presidente (2010-2018) e Nobel de Paz, à Rádio W.
Além do fracasso no Congresso, Petro acrescenta contratempos em suas tentativas de estabelecer a paz com as organizações que seguiram em armas, após o histórico acordo de paz com a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em 2016.
Os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN), com quem conduz negociações de paz, se recusaram a participar de um cessar-fogo bilateral proposto pelo governo em 31 de dezembro.
Já o Clã do Golfo, o maior cartel do tráfico de drogas no país, aceitou de início a trégua, mas, meses depois, o presidente reativou as operações militares contra essa organização após ataques a civis e forças públicas.
E.Mancini--IM