Bukele suspende tarifas sobre alimentos importados em El Salvador
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou nesta terça-feira (16) que suspenderá as tarifas sobre os alimentos importados da cesta básica por dez anos, buscando mitigar os aumentos de preços. A decisão, no entanto, gerou críticas de produtores e economistas.
As medidas contra os aumentos de preços parecem ser uma nova cruzada de Bukele após pacificar o país com uma "guerra" contra as gangues iniciada em março de 2022. Sua nova iniciativa causou polêmica, pois incentivaria a importação de alimentos em detrimento da produção nacional.
"Hoje [terça-feira], enviarei uma proposta [ao Congresso] para suspender as tarifas de todos os produtos da cesta básica ampliada, bem como de outros 70 produtos alimentícios, por um período de dez anos", informou Bukele na rede social X.
- Medida ineficaz? -
"Toda iniciativa que tende a gerar um benefício para a população, especialmente agora com o aumento dos preços da cesta básica, é importante e deve ser apoiada", declarou à AFP o diretor da ONG Iniciativa Social para a Democracia, Ramón Villalta.
No entanto, o economista independente Rafael Lemus, um crítico de Bukele, afirmou que essa medida será "ineficaz", pois a maioria dos alimentos não paga tarifas de importação.
"Medida ineficaz, a maioria tem 0% de tarifa", escreveu Lemus no X, afirmando ainda que Bukele "incentiva a importação em detrimento da produção local".
Outro economista crítico do governo, César Villalona, afirmou que Bukele "vende a ideia de que combate a inflação promovendo importações baratas", mas há "erros em seu anúncio".
Villalona destacou que a maioria dos produtos da cesta básica não paga tarifas, pois estes "são importados principalmente da Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, México e Estados Unidos, países com os quais há tratados de livre comércio".
- "Nos coloca em desvantagem" -
El Salvador importa 90% das leguminosas, verduras e frutas, segundo dados oficiais, além de boa parte dos cereais, óleos e leites.
"A solução é estimular a produção nacional, só assim garantiremos a estabilização dos preços no caso de verduras e leguminosas", disse à AFP o presidente da Câmara Salvadorenha de Pequenos e Médios Produtores Agropecuários (Campo), Luis Treminio.
A Campo, segundo Treminio, propôs infrutiferamente há dois anos eliminar o imposto sobre valor agregado (IVA, 13%) sobre os insumos agrícolas para "fomentar" a produção interna, além de subsidiar a "agricultura de subsistência".
Eliminar as tarifas sobre certos alimentos "em vez de fomentar a soberania alimentar, está fomentando a importação e isso nos coloca em desvantagem", afirmou Treminio.
- Inspeções em supermercados -
As autoridades iniciaram inspeções em redes de supermercados na semana passada, após Bukele ordenar o combate às "máfias" empresariais devido ao aumento dos preços dos alimentos.
Alguns produtos, segundo a Defensoria do Consumidor, acumulam aumentos de até 40% em um ano.
O órgão solicitou informações às seis principais cadeias de supermercados sobre os aumentos dos preços.
Bukele também ordenou investigar os aumentos "injustificados" de preços de inseticidas e repelentes em farmácias, ferragens e supermercados, em meio a um surto de dengue que matou quatro crianças.
Além disso, o presidente abriu mercados móveis de produtos agrícolas para fomentar vendas diretas e evitar intermediários na tentativa de conter os aumentos.
Cerca de 29% dos 6,5 milhões de salvadorenhos que vivem no país são pobres, segundo a Cepal, e a inflação interanual foi de 1,48% em junho.
O custo da cesta básica de alimentos por família, segundo o Banco Central de Reserva, é de 256,56 dólares (R$ 1.392,3) por mês, frente a um salário mínimo estagnado de 243 dólares (R$ 1.318,17) no setor agropecuário, 359 (R$ 1.948,22) na maquila e 365 (R$ 1.980,72) no comércio e na indústria.
Bukele instou em 5 de julho, durante um pronunciamento em uma cadeia de rádio e televisão, os "importadores, atacadistas, distribuidores e comerciantes de alimentos" a pararem "os abusos".
"Parem de abusar do povo salvadorenho [com os preços] ou não reclamem depois", declarou na ocasião.
E.Accardi--IM