Trabalhadores palestinos presos em Israel são enviados de volta a Gaza sob bombas
O fluxo de homens exaustos é interminável. Eles chegam a Gaza em pequenos grupos, debilitados. Alguns caem de joelhos de exaustão e todos querem mostrar as marcas de tortura nos pulsos e o número etiquetado no tornozelo - marcas do período de prisão em Israel.
Na sexta-feira, enquanto continuava sua campanha de bombardeio, Israel começou a enviar de volta a Gaza milhares de palestinos que haviam ido antes de 7 de outubro trabalhar em território israelense. Alguns afirmam não saber se ainda têm uma família ou uma casa.
"Ficamos 25 dias na prisão e hoje nos trouxeram aqui, não sabemos nada sobre o que está acontecendo em Gaza, não temos ideia da situação", diz Nidal Abed.
A situação a que ele se refere, que começou há quase um mês, é a guerra, desencadeada em 7 de outubro por um sangrento ataque do Hamas, que controla Gaza, que deixou mais de 1.400 mortos em Israel, segundo as autoridades.
Desde então, Israel tem bombardeado incessantemente a Faixa de Gaza, onde cerca de 2,4 milhões de palestinos estão amontoados e privados de água potável, de eletricidade e, cada vez mais, de alimentos. Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, os bombardeios já mataram mais de 9.200 pessoas, a maioria civis.
Três dias após o ataque do Hamas, Israel cancelou os 18.500 vistos de trabalho concedidos aos palestinos de Gaza.
- "Morrer a qualquer momento" -
Através do posto fronteiriço de Karem Abou Salem (conhecido como Kerem Shalom no lado israelense), os homens trabalhadores vão passando. Nenhum deles carrega seus pertences consigo, alguns mal conseguiram vestir um casaco.
Yasser Mostafa conseguiu vestir um colete sobre seu suéter quando embarcou em Israel, nos primeiros dias da guerra.
"A polícia entrou em nossas casas e nos levou", conta Mostafa, com aparência debilitada.
"Eles nos jogaram em um acampamento que não era decente nem para animais", denuncia. "Eles nos torturaram com choques elétricos, soltaram cães sobre nós", acrescenta.
Um pouco adiante, era possível ver vários homens mostrando as mãos com feridas ainda abertas e os tornozelos amarrados com pulseiras de plástico azul. "061962", lê uma delas, "062030" indica outra.
Um homem mostra seus pulsos, que ainda têm marcas de cortes, encarceramento e sinais de espancamento, de acordo com ele.
Ramadan al-Issaoui afirma que esteve "23 dias em Ofer", uma prisão israelense na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel há mais de 50 anos.
"Estava em um centro de detenção com centenas de detentos", contou à AFP, com voz trêmula. "Dizíamos uns aos outros que poderíamos morrer a qualquer momento".
"Eles nos davam comida e água apenas o suficiente para sobreviver, não sabíamos nada do mundo exterior", indicou.
- "Filme de terror" -
"Psicologicamente, estamos destruídos: não sabemos se nossas famílias estão vivas ou mortas", continuou o trabalhador.
"Se pelo menos estivéssemos aqui na guerra poderíamos ter morrido ao lado de nossos filhos", disse com a voz irregular e a testa coberta de suor.
Enquanto chega na Faixa de Gaza devastada para se encontrar com sua família, que não vê há semanas, Sabri Fayez diz que acabou de sair de um "filme de terror".
"Foi um filme de terror interminável que se repetia constantemente: inteligência, interrogatórios, cães soltos sobre nós, metralhadoras, apesar de sermos apenas trabalhadores", conta, gesticulando com as mãos, "nossa única ocupação é ganhar a vida".
"A cada minuto, rezávamos para morrer e que isso acabasse", afirma o homem, visivelmente esgotado.
Atrás dele, mais homens nas mesmas condições. E na frente, alguns sobem uma carroça puxada por um cavalo, que adentra lentamente na Faixa de Gaza, onde o som das explosões é incessante.
V.Barbieri--IM