Líbios protestam contra gestão das trágicas inundações no leste do país
Os moradores de Derna, no leste da Líbia, se manifestaram, nesta segunda-feira (18), para exigir que as autoridades prestem contas de sua gestão das trágicas inundações que deixaram cerca de 3.300 mortos, segundo o último balanço oficial, ainda provisório.
De acordo com um correspondente da AFP, centenas de pessoas se reuniram diante da grande mesquita da cidade e fizeram chamamentos contra as autoridades da metade oriental de um país dividido em dois.
"O povo quer a queda do Parlamento", "Aguila [Saleh, chefe de governo do leste] é o inimigo de Deus" e "Aqueles que roubaram ou traíram devem ser enforcados" foram algumas das palavras de ordem repetidas pelos manifestantes.
Em um comunicado lido durante o protesto, eles também pediram "o estabelecimento urgente de um escritório de apoio da ONU em Derna" e que se impulsione "um processo de reconstrução da cidade e de compensação aos moradores afetados", além de exigir a dissolução da câmara municipal.
Segundo cientistas políticos e analistas, o caos na Líbia favoreceu a deterioração de infraestruturas vitais, como as represas de Derna, cujo colapso provocou as inundações de 10 de setembro que devastaram a cidade e provocaram milhares de mortes.
As duas barragens apresentavam fissuras desde o ano de 1998 que jamais foram reparadas.
A água atingiu uma superfície densamente povoada, de 6 km², causando danos em cerca de 1.500 edifícios em Derna. Um grande número deles, 891, foi "varrido do mapa", segundo estimativas preliminares do governo de Trípoli, com base em imagens de satélite feitas antes e depois do desastre.
A resposta para essa catástrofe e a organização dos trabalhos de resgate foram dificultados pelo caos político reinante na Líbia desde a queda e morte do ditador Muamar Kadhafi, em 2011.
Atualmente, a Líbia tem dois governos em conflito, um em Trípoli, reconhecido pela ONU, e outro no leste, a região onde ocorreram as inundações.
Abdul Wahab al Masouri lamenta a situação em que ficou Derna: "Crescemos aqui, fomos criados aqui [...], mas passamos a odiar este lugar, no que ele se transformou". "Voltou a ser o que era há 1.000 anos. As pessoas estão morando em cavernas, a cidade parece que está morta, vazia, sem vida".
- Propagação de doenças -
Enquanto a população local critica a gestão das autoridades, as agências da ONU lutam para prevenir a propagação de doenças na cidade.
A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (Manul) informou, em um comunicado, que equipes de nove agências da ONU estão na cidade para oferecer ajuda às milhares de pessoas que ficaram desabrigadas com a passagem da tempestade Daniel e as súbitas inundações que atingiram Derna, além de outras localidades do leste do país.
As autoridades locais, as agências de ajuda e a equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) estão preocupadas "com o risco de propagação de doenças, em particular pela água contaminada e a falta de higiene", afirmou a Manul.
O comunicado acrescenta que a missão da OMS "segue trabalhando para prevenir a propagação de enfermidades e evitar uma segunda crise devastadora na região".
Organizações humanitárias internacionais e autoridades locais alertaram que o balanço final pode ser muito maior que os 3.300 mortos atuais, devido aos milhares de desaparecidos que as equipes de emergência líbias e estrangeiras continuam procurando.
O Crescente Vermelho líbio anunciou que criou uma plataforma para contabilizar os desaparecidos e pediu a ajuda da população para obter informações sobre as pessoas procuradas.
O acidente também matou três integrantes de uma família líbia que estavam em outro veículo, informou o governo com sede no leste da Líbia.
As equipes de resgate nacionais foram reforçadas com grupos provenientes da França, Grécia, Irã, Rússia, Arábia Saudita, Tunísia, Turquia e dos Emirados Árabes Unidos.
L.Marino--IM